quarta-feira, 19 de março de 2008

Dia do Pai


A vida do meu pai dava um filme. Muitas vezes seria uma comédia, daquela com humor negro, teria alguns apontamentos de drama... e às vezes teria direito mesmo a bolinha vermelha no canto superior direito.

Ele conta que quando era pequeno só usava sapatos no Inverno e que ia para a escola a pé por um caminho terra e pedras. Eu conheço esse caminho... e devia doer como tudo! Ele também conta que a minha avó deixava-os (a ele e às minhas tias) dentro de um caixote debaixo de uma alfarrobeira, como se fossem uma ninhada de gatinhos. Ele conta que bebia leite directamente das tetas das cabras. (Incrível! Nunca apanhou brucelose!!!)

O meu pai não é doutor nem engenheiro, mas começou a trabalhar aos 14 anos. E embora seja do Algarve, aprendeu a nadar na praia do Samouco. O meu pai foi à guerra, mas não deu nem levou, porque lá arranjou maneira de se esconder atrás de uma secretária. esteve em Moçambique e, como era muito namoradeiro, sei que lá por África deve haver um pretito com uns olhos azuis lindos como só o meu pai tem. E eu gostava tanto de ter os olhos como os dele...!

Quando eu era pequena o meu pai cantava-me canções pedagogicamente incorrectas... e eu gostava taaaaanto. Ainda gosto! Era a música da caveira que deu com a tíbia no cadáver zarolho, a música dos números em que o 6 dá uma facada no 7.

E o meu pai a rir?! É de chorar!!! Quando a gargalhada dele começa nunca mais para e quando se rende à dor de barriga as lágrimas rolam-lhe pela cara!!! E ele ri-se das tontices e das judiarias que faz com toda a naturalidade como se fosse o maior dos mimos. Eu devia ter 4 anos e lembro-me de o meu pai estar a descascar um ovo acabadinho de cozer e depois pediu-me com a maior naturalidade para pô-lo na mesa. E eu lá fui, confiante, agarrar naquele ovo branquinho... a escaldar! Descobri o que é o "quente" da pior maneira! Chorei este mundo e o outro! A minha mãe tentava acalmar a minha dor com água fria, na casa de banho e estava irritadísima com ele.

Mas o meu pai é assim: cheio de traquinices, como se ainda tivesse 3 anos.

Feliz Dia do Pai, daddy!

Sem comentários: